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17 de junho de 2015

A VILA GAMELEIRA


         
Por tudo o que se conseguiu apurar, conclui-se que, em meados de 1905 o Rev. Ricardo José do Valle saiu do Rio de Janeiro com destino a Goiás. Vinha com a missão de pregar a Palavra de Deus aos povos das terras goianas. A parada inicial foi na cidade de Catalão, onde esteve por pouco tempo, seguindo posteriormente para Santa Cruz, local escolhido para fixar a sua residência.
Lá chegando, ao dar prosseguimento ao trabalho missionário já iniciado por Frederick Glass em 1902, encontrou séria resistência por parte da população católica tradicional da cidade, especialmente por muitos de seus líderes, que faziam questão de manter aceso o monopólio das atividades religiosas, resquícios ainda dos tempos coloniais e imperiais em que o catolicismo era atrelado ao Estado.
Naquele tempo, em que a liberdade religiosa ainda estava longe de acontecer, não era raro ocorrerem conflitos ou pequenos entreveros entre católicos e protestantes que não se cansavam de evidenciar as suas divergências doutrinárias. E um dos pontos de maior discordância entre ambas as doutrinas era com relação às imagens, veneradas pelos primeiros, que as tinham como prova de fé, e renegadas pelos segundos, que as consideravam como afronta à sua crença.
            E foi por causa desse confronto ideológico-religioso, iniciado por ocasião da primeira visita feita por Glass em 1902, que aconteceu o episódio já narrado anteriormente, em que foi quebrada a imagem do santo padroeiro da cidade pouco antes da procissão comemorativa dos festejos tradicionais. Revoltados com essa atitude extrema, e já descontentes diante das crescentes conversões ao protestantismo, os católicos expulsaram-nos da cidade. Esse fato foi, digamos assim, a gota d’água para pôr fim à convivência de católicos e protestantes na mesma localidade.      
Ocorre que nessas alturas dos acontecimentos as pregações dos missionários já haviam, há tempo, saído dos limites urbanos e alcançado algumas localidades do meio rural, dentre elas a fazenda de propriedade de José Pereira Faustino, nas proximidades de um córrego denominado Gameleirinha, no mesmo município, mas distante da sede uns 30 (trinta) quilômetros, aproximadamente.
Assim, entre a pequena comunidade rural protestante formada nas terras daquele fazendeiro e o grupo missionário de Frederick Glass já havia um processo de estreitamento de relações com vistas à consolidação do protestantismo na região. Isso favoreceu o desencadeamento da história cujo desfecho foi a fundação da Vila Gameleira. É que José Pereira Faustino, sensível aos fatos que culminaram com a expulsão dos missionários da cidade de Santa Cruz, doou à Igreja Cristã Evangélica quatro alqueires de terras próximas ao mencionado Córrego Gameleirinha, para acolher ali as pessoas perseguidas pelos católicos. Isto aconteceu provavelmente no ano de 1904, data que passou para a história como marco inicial da cidade de Cristianópolis.

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