- Cinco mais seis?
- Onnnnze!!!
- Sobe quanto?
- Ummmm!!!
- Onnnnze!!!
- Sobe quanto?
- Ummmm!!!
- Sete para seis?
- Não dáááá!!!
- O que eu faço?
- Toma emprestaaaado!!!...
- Não dáááá!!!
- O que eu faço?
- Toma emprestaaaado!!!...
Cabeceira do Rio do Peixe. O Grupo Escolar sozinho plantado no meio do mato. O local fora cedido pelo fazendeiro, para que a Prefeitura construísse o educandário.
Prédio já antigo, janelas meio descanhotadas e paredes esburacadas por fora, mordiscadas pelos dentes roedores dos cavalos e das éguas dos vizinhos que ali faziam recreio à procura de sal.
Goteirava. Tempo de chuva pegada era um deus-nos-acuda. A gurizada sofria horrores. Sei lá se sofria, menino importa lá com essas coisas? Não havia quem desse venção na tapagem das goteiras, pois os estilingues dos marmanjos não davam trégua. O professor bem que danava, ameaçava de castigo, chegava a pôr os mais danados ajoelhados em cima de grãos de milho com os braços abertos. Mas no que descuidava um pouquinho a chuva chegava, vazava nos buracos das telhas e molhava todo mundo. Era uma farra.
Professor era um só, para atender desde o prezinho até o quarto ano. Enquanto a turma do fundo da sala recitava em voz alta o bê-a:bá, bê-é:bé, bê-i:bi..., outro grupo copiava a lição da cartilha toda esmolambada; outro ainda escrevia no quadro-negro desbotado e rachado as operações aritméticas elementares.
O mestre ia e vinha de bicicleta, pedalando morro a cima ou apreciando o doce ventinho batendo na maçã do rosto morro a baixo. Morava meio longe, distante uns dois quilômetros. Chuva ou sol e a jornada se repetia anos e anos seguidos.
Jamais reclamava. Não via motivos. Por que reclamar, se aquela era a vida que havia pedido a Deus? Finalmente, aposentou-se. O estresse da sala de aula acumulado ao longo dos anos, como a insistente gota d’água que mesmo na rotina preguiçosa transborda o recipiente, fê-lo envelhecer precocemente.
O velho professor nunca pôde possuir um automóvel. Nem de segunda mão. O dinheiro do mês era minguado, mal dava para comprar o arroz, o feijão e alguma mistura a mais para garantir o sustento da família. A descendência aumentava a cada ano.
Mesmo assim era feliz. Enchia-se de satisfação na sua bicicleta, rodando para cima e para baixo, sorrindo e cumprimentando a todos e chamando-os de “My friend”, exibindo no peito a garbosa camisa do Vasco da Gama, seu time preferido. Feliz principalmente porque havia comprado bicicleta nova, a décima sétima de todo o decorrer de sua existência. Achava-se um sortudo.
(Do livro Causos Incautos - de Elson G. Oliveira)
Prédio já antigo, janelas meio descanhotadas e paredes esburacadas por fora, mordiscadas pelos dentes roedores dos cavalos e das éguas dos vizinhos que ali faziam recreio à procura de sal.
Goteirava. Tempo de chuva pegada era um deus-nos-acuda. A gurizada sofria horrores. Sei lá se sofria, menino importa lá com essas coisas? Não havia quem desse venção na tapagem das goteiras, pois os estilingues dos marmanjos não davam trégua. O professor bem que danava, ameaçava de castigo, chegava a pôr os mais danados ajoelhados em cima de grãos de milho com os braços abertos. Mas no que descuidava um pouquinho a chuva chegava, vazava nos buracos das telhas e molhava todo mundo. Era uma farra.
Professor era um só, para atender desde o prezinho até o quarto ano. Enquanto a turma do fundo da sala recitava em voz alta o bê-a:bá, bê-é:bé, bê-i:bi..., outro grupo copiava a lição da cartilha toda esmolambada; outro ainda escrevia no quadro-negro desbotado e rachado as operações aritméticas elementares.
O mestre ia e vinha de bicicleta, pedalando morro a cima ou apreciando o doce ventinho batendo na maçã do rosto morro a baixo. Morava meio longe, distante uns dois quilômetros. Chuva ou sol e a jornada se repetia anos e anos seguidos.
Jamais reclamava. Não via motivos. Por que reclamar, se aquela era a vida que havia pedido a Deus? Finalmente, aposentou-se. O estresse da sala de aula acumulado ao longo dos anos, como a insistente gota d’água que mesmo na rotina preguiçosa transborda o recipiente, fê-lo envelhecer precocemente.
O velho professor nunca pôde possuir um automóvel. Nem de segunda mão. O dinheiro do mês era minguado, mal dava para comprar o arroz, o feijão e alguma mistura a mais para garantir o sustento da família. A descendência aumentava a cada ano.
Mesmo assim era feliz. Enchia-se de satisfação na sua bicicleta, rodando para cima e para baixo, sorrindo e cumprimentando a todos e chamando-os de “My friend”, exibindo no peito a garbosa camisa do Vasco da Gama, seu time preferido. Feliz principalmente porque havia comprado bicicleta nova, a décima sétima de todo o decorrer de sua existência. Achava-se um sortudo.
(Do livro Causos Incautos - de Elson G. Oliveira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe Aqui Sua Opinião
!