19 de agosto de 2014
TOMÉ, O PRETO VELHO
Eu era moleque ainda, porém me lembro como hoje de ouvir a voz do meu pai e do Tomé, apontando os bois.
Aos de guia um deles ordenava:
— Vai Pintor, vem Mascarado! Vai Pintor, vem Mascarado!!!
E o outro conversava com os do cabeçalho:
— Segura Faceiro, encosta Amoroso! Segura Faceiro, encosta Amoroso!!!
Os bois eram tão aplicados que dificilmente precisava usar ferrão. Cada qual sabia o que devia fazer. Bastava chamar pelo nome e apontar. Às vezes, numa junta, um boi tem mais brio que o outro, ou então um é mais preguiçoso. E diante da desigualdade de forças, entra a experiência do carreiro para chamar a atenção do faltoso, equilibrando-se as ações. De vez em quando, frente a um obstáculo mais sério, é necessário parar, dar tempo ao tempo, conversar com a guia, com o cabeçalho e com a chaveia, aplicá-los um por um, para em seguida mandar pegar igual. É aí que, quando os bois são experientes e pegam de uma só vez, de duas uma: ou quebram canzil – ou até mesmo a canga –, ou puxam o carro cheio que estiver caído em qualquer buraco, ou preso em algum atoleiro, ou empacado na subida de um morro.
(Do livro O Sino da Igreja, de Elson G. Oliveira)
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