Você tem medo? Tem medo de ficar sozinho? Tem medo de escuro, por isso dorme com a luz acesa? Tem medo de assombração? Tem medo de barata, de mandruvá, de perereca, de sapo, de lagartixa, de cobra?
Você tem medo de enfrentar a vida, porque se acha incapaz, incompetente, acha que só os outros conseguem? Você tem medo de começar a fazer determinada coisa e não dar conta de terminar? Você tem medo de assalto? Você tem medo de violência? Você tem medo de crescer?
Vejamos a história de uma pessoa que aqui vamos denominar Maria:
“Quando criança eu não tinha para quem contar as coisas. Eu queria fazer isso e aquilo, mas por medo eu não fazia. Existia um córrego em que as pessoas nadavam e brincavam, porém me diziam que lá eu não podia ir, pois corria o risco de me afogar. Aí eu ficava com medo e não me arriscava a entrar na água, porque tinha medo de me afogar.
Falavam também que era melhor não brincar com as outras crianças, que era para eu ficar ali sentada, só olhando. Eu obedecia, ficava só olhando as outras crianças brincarem.
Eu via que nadar era bom, contudo eu não podia nem tentar, era proibida, por isso nunca aprendi a nadar. Quando muito podia ver os meninos nadando, mas de longe, nem perto podia chegar. Não havia ninguém para me dizer que eu podia tentar e se não desse conta não tinha importância, porque é assim que a gente cresce: caindo, levantando; tentando outra vez e outras vezes.
Só que aí eu cresci e continuei fugindo dos desafios que a vida colocava à minha frente. Assim, hoje em dia quando uma coisa não dá certa pra mim ou tenho de enfrentar algum obstáculo maior, meu subconsciente me orienta a fugir, a não enfrentar aquilo, porque pode ser que eu não dê conta. Eu aprendi assim. Eu cresci pensando assim. Não tem sido fácil lutar contra isso. Uma barreira intransponível.
Eu sei que existem coisas boas, mas eu só vou conseguir alcançá-las se tentar. No entanto, tenho medo. Medo de tentar. Ainda não me conscientizei de que tem de ser assim, isto é, que a tentativa ajuda a pavimentar o caminho da vitória.
Eu sei que tem um mundo lá fora com muitas coisas boas a oferecer, com muitas oportunidades, mas me ensinaram a ser somente plateia. E quando eu quero que algo bom me aconteça, eu não sei fazer nada além de sentar perto de quem está nadando e torcer para que respingue um pouco de água em mim.”
Sobre a questão de ter medo de tudo quando há, medo disso e daquilo, medos que tem a sua origem na infância e que se transformam em trauma, acompanhando a pessoa pela vida adulta afora, o que podemos dizer?
Olha, nunca é tarde para aprender ou reaprender as lições da vida. A criança não nasce correndo para lá e para cá nem expressando os seus desejos por meio da palavra. Há um aprendizado que a leva a isso. Antes do sucesso de caminhar e correr livremente ou falar corretamente, muitas tentativas vão acontecer e muitas caídas e levantadas vão se suceder.
Pessoas vão rir às gargalhadas dos tombos decorrentes dos seus primeiros passinhos ou das suas palavras mal pronunciadas. E daí? Dar crédito a isso e esconder-se envergonhada? Não. Diante de situações semelhantes, a criança simplesmente acha graça e ri juntamente com os demais. E assim ela não se faz menos criança ou menos gente, pelo contrário, ela se torna mais amada pelas pessoas à sua volta, porque todos veem o seu esforço e acreditam na sua vitória que virá mais dias menos dias. É a esperança que aflora.
Na história de Maria, ela intuiu que o seu medo de crescer é consequente de um aprendizado que não houve e das tentativas que não ocorreram enquanto criança, a idade própria para tais iniciativas. É possível até que ela tenha razão. Essas iniciativas podem mesmo ter ficado bloqueadas lá no passado, atrofiando o seu crescimento como pessoa.
Se isso for verdadeiro, vejo que a solução está à vista. Quem tem a chave para desbloquear essa situação é você e ninguém mais. Por que não tentar agora? Por que não descer as escadarias do palco, deixando de ser plateia para chegar até o picadeiro e exibir a cena dos seus desejos? Você não acha que já perdeu tempo demais?
Melhor do que antes, naquele tempo você era apenas uma criança. Hoje você é uma pessoa adulta, capaz, com discernimento dos fatos do dia a dia, e com certeza não precisará levar tantos tombos para aprender as lições da vida e conseguir realizar os seus sonhos. É preciso tentar. E é agora, não dá para adiar mais. Boa sorte!